Passos, palavras, paixão...

Como post inicial deste blog, não poderia deixar de me inspirar em um de meus filmes favoritos, que me marcou lá por meados, ou fins, de minha adolescência. Um filme inteligente, sensível, sutil, que nos leva por belas paisagens de Viena acompanhando o envolvimento de um rapaz americano e uma jovem francesa, que têm apenas até o amanhecer para se conhecerem melhor. Esse filme é "Antes do Amanhecer" (Before Sunrise, 1995), com Ethan Hawke e Julie Delpy no elenco.

Estou solto pela vida
Minha liberdade querida
Sensação ímpar e estimada
De ares
De risos
De caminhos sem destino
E mais nada


Um dia, no entanto,
Quero encontrar tal encanto
Capaz de me deter, me domar
O espírito
O pensamento
O peito em chamas
Com nada mais que um olhar!


E, assim, em meus sonhos, sigo caminhando por estradas sem nome, por lugares desconhecidos, por memórias daquilo que há muito tempo foi, mas que se perdeu com o vento que faz mover o tempo sob nossos pés. A tempestade já passou, há muitas estações atrás, mesmo que na lembrança ainda restem marcas, cicatrizes, algumas desses invisíveis a olho nu, mas claras sob a lente treinada da alma. No entanto, apesar de clichê, esse mundo gira, o tempo corre, e águas passadas já se perderam no encontro com o mar...a vida flui, segue adiante.

Sonho ou realidade?! Continuo nessa jornada, buscando algo que me levante, algum singelo símbolo de luz na penumbra que restou após a antiga tormenta...porém, a busca é confusa, é difícil, é cansativa. Complicado procurar sem saber que elemento de redenção é esse a nos elevar um plano acima do nível atual em que nos colocamos. Parar, não é alternativa cabível...então, vamos em frente.

Até que, de repente, não mais que de repente, de inesperada situação que nos assalta de surpresa, algo incomum acontece! Não são fogos de artifício, nem os estrondos de uma parada militar em celebração da independência nacional...é um brilho, intenso e radiante, uma luz que nos chama para perto como a mariposas para uma lâmpada incandescente (por mais um clichê, perdão!). E, sem delongas, esse delicado sinal de salvação nos detém de nossa jornada sem rumo. Um olhar! Um simples, mas maravilhosamente saboroso olhar!

Antes de provarmos tal iguaria, tão comum mundo afora (apesar de pouquíssimos serem de nosso agrado), sentíamos como se a vida houvesse nos dado seu máximo, como se não houvesse mais novidades a serem descobertas nos confins daquilo que chamamos de "coração". Até que aquele olhar incomum, especial, nos cativa e nos leva flutuando em sua direção.

E do olhar seguem as palavras, incertas e arbitrárias, buscando um sentido para aquilo que parece indicar que existe, realmente, um destino reservado para cada um de nós. Cambaleantes, inseguros, empolgados até os fios dos cabelos, vamos tateando por essa nova empreitada, degustando cada breve instante sem pensar no próximo amanhecer, mas ansiando por cada próximo segundo dessa nova experiência que se desdobra cuidadosamente, apesar do tempo lá fora parecer girar os ponteiros do relógio a todo impulso.

Caminhadas despreocupadas, passeios ao ar livre, conversas sobre os mais variados assuntos, mãos que se tocam timidamente aos primeiros instantes elétricos, famintas por mais contatos de pele, sede de pousar olhos nos olhos com maior intensidade, tentativas de se descobrir que pensamentos perambulam pela mente desse outro fascinante ser ao nosso lado.

Começamos uma nova jornada, seja a última, ou a primeira, ou mesmo uma de mais outras tantas, a nos fazer sonhar de novo, a nos colocar em movimento após tempos de inércia. Nos sentimos mais vibrantes, mais capazes de realizar as mais loucas aventuras. Saboreamos cada detalhe, lutamos contra o medo de que logo o sonho se acabe. Mas, não importa, o momento é mais forte, o agora é imperativo, nem sabemos mais o que o amanhã significa.

Com frio na barriga, e coragem cega de sobra, vamos engatinhando...para um dia andarmos como gente grande.